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Em Leceia estão representadas diversas fases culturais, separadas ou não por curtos hiatos de abandono, que poderiam não ter sido totais, correspondendo a mais de mil anos de ocupação.
Neste artigo serão apresentadas e discutidos os seguintes aspectos: 1. História das investigações; 2. Vinte anos de escavações arqueológicas: 1983-2002; 3. Técnicas construtivas; 4. Aspectos institucionais; 5. A publicação científica dos resultados; 6. A recuperação e a valorização da estação arqueológica; 7. A musealizaão, a animação e a divulgação da estação arqueológica; 8. Conclusões e perspectivas futuras.
The result of the archaeological surveys conducted on the slope underlying the platform where the prehistoric settlement of Leceia (Oeiras) was implanted are presented. The collected elements point to a remarkable geomorphological evolution of that area after the abandonment of the settlement, due to anthropic causes, the primitive surface of the soil being located during the Early Chalcolithic (2800/ 2500 BC) in the lower part of the slope investigated, about 2.5 m to 3.0 m below the current topographic surface of the slope.
o objectivo deste trabalho é o de dar a conhecer o conjunto dos materiais de pedra polida até o presente recuperados nas escavações dirigidas pelo signatário no povoado pré-histórico de Leceia, desde 1983. Trata-se, pois, de recolhas efectuadas no decurso dos últimos 18 anos, correspondentes à escavação de uma área superior a 10 000 m2. Todos os materiais susceptíveis de neles se identificarem pelo menos alguns dos atributos tipológicos considerados foram desenhados: deste modo, é possível confrontação directa, por parte do leitor, com cada uma das peças estudadas. Este trabalho não esgota o assunto: é desejável que alguns dos aspectos agora tratados sejam discutidos de forma mais aprofundada em estudos ulteriores. No entanto, a relevância das conclusões ora apresentadas encontra-se assegurada à partida não só pela riqueza e variedade tipológica das 184 peças que integram o conjunto, aspecto que se afigura singularmente importante, mas, sobretudo, pelas informações estratigráficas associadas a cada uma delas: assim se apresentaram, pela primeira vez, no concernente ao nosso País, considerações quanto à evolução da utensilagem ao longo de um período de cerca de 1000 anos, entre o último quartel do IV milénio e o terceiro quartel do III milénio AC, e quanto às alterações verificadas no âmbito das respectivas matérias-primas utilizadas, ou seja, sobre as próprias fontes de abastecimento a que, no referido intervalo de tempo, sucessivamente se recorreu, com evidentes incidências económicas à escala inter-regional.
No decurso da 13ª. campanha de escavações realizada em 1995 no povoado pré-histórico de Leceia, dirigida pelo signatário, investigou-se uma área situada no exterior da fortificação calcolítica, dispositivo constituído por três linhas de muralha articuladas entre si. A referida área, distanciada menos de 10 m da primeira linha defensiva, revelou uma estrutura de época campaniforme de planta elíptica, definida por alinhamento de blocos de calcário, fundados em camada terrosa, acastanhada, contendo abundante espólio característico do Neolítico final. Tal camada corresponde à primeira ocupação do povoado pré-histórico: trata-se da camada 4 da sequência estratigráfica geral ali definida (CARDOSO, 1994, 1995). verifica-se, pois, na referida zona, lacuna estratigráfica correspondente à ocupação mais importante do povoado pré-histórico, situável no Calcolítico inicial e no pleno. Os materiais agora estudados, que incluem também os exumados na campanha de 1996, foram recolhidos no interior do recinto campaniforme, a Estrutura FM, na camada assente no substrato geológico subjacente ao nível da sua fundação; reportam-se, deste modo, ao Neolítico final. A sua raridade justifica divulgação imediata, através do presente trabalho.
(I)mobilidades na pré-história: pessoas, recursos, objetos, sítios e territórios, 2020
Apresenta-se o estudo actualizado dos resultados previamente publicados da utensilagem de pedra polida recolhida nas escavações dirigidas pelo signatário no povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras) entre 1983 e 2002. Tal estudo envolveu a análise macroscópica e microscópica, em luz polarizada e em lâmina delgada de alguns dos mais de duzentos instrumentos de pedra polida recolhidos. A maior parte deles é de anfiboloxisto, cujos afloramentos mais próximos se situam a mais de 100 km de distância em linha recta, na bordadura ocidental do Maciço Hercínico, delimitando a bacia terciária do rio Tejo. Mais de 75% das rochas identificadas pertencem a este grupo petrográfico, cuja presença conheceu acréscimo permanente ao longo dos mais de 1000 anos de ocupação do povoado, desde o Neolítico Final (3250-3000/2900 a.C.) até ao Calcolítico Pleno/Final (2600/2500-2000 a.C.). Este fenómeno integra-se no quadro da intensificação económica e consequente interacção que caracteriza todo o 3.º milénio a.C. / Abstract: We present an updated study of previously published results of the polished stone tool collected in the excavations conducted by the author in the prehistoric settlement of Leceia (Oeiras) between 1983 and 2002. This work involved macroscopic and microscopic analysis in polarized light on thin sections of some of the more than two hundred polished stone instruments collected. Most of them are of amphiboloxist, whose closest outcrops are located more than 100 km of distance in a straight line, in the western border of the Hercinic Massif, delimiting the Tertiary basin of the river Tagus. More than 75% of the identified rocks belong to this petrographic group, whose presence has increased permanently over the 1000 years of human presence in the settlement, from the Late Neolithic (3250-3000/2900 BC) to the Full/ Late Chalcolithic (2600/2500-2000 BC). This phenomenon is part of the economic intensification and consequent interaction that characterizes the entire 3rd millennium BC.
Desde a década de 1970 que ao grupo calcolítico da Estremadura foi reconhecida identidade cultural própria, recentemente reforçada UORGE & JORGE, 1997), expressa pela designação de Calcolítico da Estremadura; porém, tal designação resultou, não dos trabalhos até então realizados, mas da definição cultural do grupo calcolítico do Sudoeste (SILVA & SOARES, 1976/77, SOARES, 1994). De então para cá, jamais foi tentada uma síntese dos conhecimentos acumulados e aquela expressão, embora de indiscutível validade - aceitando, com HODDER (1982), que a cultura material expressa a identidade cultural subjacente - carece de cabal demonstração. Com efeito, tratando-se de região propícia à fixação humana, mercê de favoráveis condições climáticas, pedológicas, e geográficas, avultando entre estas a proximidade do litoral atlântico e dos estuários do Tejo e do Sado, e a existência de importantes vias de penetração no interior do território, constituiu-se desde muito cedo como área privilegiada para o estudo daquela presença. Porém, a multiplicação das descobertas e explorações não foi acompanhada do indispensável suporte teórico-interpretativo e as publicações - constituindo por vezes grossas monografias - sucederam-se, destituídas de um fio condutor, não conduzindo à desejável síntese que suportasse a perspectivação dos resultados entretanto obtidos. Tal situação caracterizou a investigação arqueológica neste domínio até à actualidade. Por outro lado, constituindo a Baixa Estremadura região-charneira entre o Sul e o Norte, o interior e o litoral , importava conhecer, na sequência da proposta de S. Oliveira JORGE (1990a), as fronteiras e relações estabelecidas com outros grupos culturais já identificados nas regiões limítrofes, designadamente o Grupo da Beiras e o do Sudoeste (ver bibliografia).
As investigações relativas ao Calcolítico da Baixa Estremadura, abaixo da latitude de Torres Vedras e até ao estuário do Sado, conduziram a uma grande quantidade de elementos, relativos tanto a povoados como a necrópoles. Porém, a ausência de programa que proporcionasse o tratamento metódico e integrado desta tão dispersa quanto heteróclita informação, impediu a demonstração cabal da forte identidade e originalidade cultural da Estremadura no decurso do Calcolítico. Neste contexto, avultam os resultados obtidos pelo Autor no povoado fortificado de Leceia (Oeiras), um dos mais notáveis dos até agora reconhecidos no País, no qual foram até ao presente (1999) realizadas dezasseis campanhas de escavações (1983-1998). Ali, foi pela primeira vez possível, o estabelecimento de limites cronológicos entre as três fases culturais identificadas, com expressão artefactual e estratigráfica, mercê da realização de 36 análises radiocarbónicas, a saber: Neolítico Final; Calcolítico Inicial; e Calcolítco Pleno. Por outro lado, a informação recolhida prestava-se particularmente à discussão da emergência e afirmação do "fenómeno" campaniforme na região, no concernente tanto à época em que aquele se verificou, como quanto às condições económicas e sociais que o pautou. O declínio generalizado dos povoados fortificados estremenhos no fim do Calcolítico foi acompanhado pela dispersão das respectivas comunidades ou das que delas descenderam por toda a região da Baixa Estremadura, sob a forma de pequenas granjas ou povoados abertos de base familiar. Ali se continuaram a desenvolver intensas actividades agro-pecuárias, incluindo a bovinicultura e a ceralicultura, actividades que requeriam a ocupação permanente dos respectivos territórios e um grau de especialização tão elevado quanto o anteriormente atingido, ao contrário do que poderia sugerir uma interpretação mais superficial da realidade arqueológica. Com efeito, a intensificação da produção, que caracterizou todo o terceiro milénio a.C. na Estremadura, encontra-se expressivamente registada pela presença, pela primeira vez comprovada, de produtos de difusão supra regional: trata-se do chamado "pacote" campaniforme, cujos componentes se encontram tão bem representados em Leceia.
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Estudos Arqueológicos de Oeiras, 4, 1993
Estudos Arqueológicos de Oeiras, 31: 640 pág., 2022
Estudos Arqueológicos de Oeiras, 2020