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(PDF) Ictiofauna do povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras).

Ictiofauna do povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras).

A raridade de restos ictiológicos, entre os espólios da generalidade das estações arqueológicas, deve-se, nalguns casos, mais às deficiências de recolha ou de conservação, do que à escassez do consumo de pescado, ao menos naquelas que, pela sua posição geográfica, o viabilizassem. Com efeito, a maioria das escavações arqueológicas têm sido efectuadas, apenas, com recurso à crivagem manual de terras, no próprio local dos trabalhos. Assim, é óbvio que todos os restos com dimensões inferiores à da malha usualmente utilizada - 0,5 cm - acabam por se perder. Porém, a alternativa ideal não seria exequível, ao menos em casos como Leceia: recolher milhares de metros cúbicos de terras, transportá-los para o laboratório e proceder, aí, às morosas operações conducentes à recolha de todos os restos potencialmente existentes, constituiria tarefa obviamente irrealizável, mesmo se tivéssemos no País recursos técnico-científicos à altura. A estratégia que adoptámos foi a de proceder à recolha integral de sedimentos apenas nos locais potencialmente mais favoráveis, em particular no enchimento de lareiras conectáveis com recintos habitacionais, os quais perfizeram, apesar da exiguidade de tais estruturas, vários metros cúbicos de terras. O estudo de tais restos, obtidos por triagem à lupa binocular, encontra-se em curso. Os resultados já obtidos evidenciam, outrossim, a vantagem de seguir, sistematicamente, tal critério, especialmente nos locais onde seja propícia a concentração de ecofactos. Neste trabalho estudam-se apenas os materiais ictiológicos recolhidos manualmente na crivagem de terras, no decurso das escavações dirigidas por um de nós (J.L.C.), desde 1983, neste povoado pré-histórico. Correspondem a 7000 m2 de área escavada, cerca de 70% da superfície primitiva do arqueossítio (CARDOSO, 1994). Não se trata, pelas limitações apontadas, de uma amostragem completa; faltam as peças menores. Os resultados obtidos sugerem algumas conclusões preliminares que justificam divulgação, até pela quase ausência de elementos disponíveis, no nosso País, sobre o assunto. A identificação taxonómica foi da autoria do primeiro dos signatários. A coordenação esteve a cargo do segundo.