Papers by Ana Leite E Aguiar
Maldito diário (não importa o que eu faça, ele acabará não sendo inteiramente sincero). LEIRIS, M... more Maldito diário (não importa o que eu faça, ele acabará não sendo inteiramente sincero). LEIRIS, Michel. A África fantasma, p. 647. O poeta Wally Salomão dizia que "a memória é uma ilha de edição 2 ". Se tudo que experimentamos acaba por cair nessa ilha, onde suprimimos ou adicionamos trechos, a memória é o local, por excelência, tanto da fabricação quanto da reinvenção de si. Ao se pensar nas genealogias de um arquivo, a memória seria o grande agente multiplicador, o grau mais paterno da máquina arquivística e de uma vida tal como ela se desejou. A memória seria, ainda, a progenitora de fantasmas que alimentam sua própria permanência através da imaginação. Suas fabricações dão corpo a espectros pinçados entre fatos diários que, em uma leitura descontínua, atuam como sobrevivências de um "pré-parto". Esse avant-naissance das imagens/ objetosestas/estes desaparecendo e reaparecendo ao longo dos anos -compõe o que Didi-Huberman chama de "passado incoativo 3 ", que é, exatamente, a sobrevivência desse começo, do pré-parto que é a origem do princípio, se assim pudermos falar sem correr com o risco de sermos fundamentalistas.
Resumo: Pensar antropofagicamente tem sido o grande desafio não apenas para os estudiosos da área... more Resumo: Pensar antropofagicamente tem sido o grande desafio não apenas para os estudiosos da área de humanas, mas para qualquer habitante do século XXI. No entanto, algumas posturas engessadas em certos fundamentalismos nos invocam permanentemente a revisitarmos os documentos de nossa memória cultural. Focando-se na Ditadura civil-militar brasileira instaurada em 1964, com vistas a recontar o que fora perpetrado na vida simbólica de nosso país, o trabalho aqui proposto pretende recortar algumas imagens e gestos que, apesar de tudoem referência à obra de Didi-Huberman -conseguiram complexificar em suas narrativas tanto o golpe como o ruído venturoso daqueles que produziram cultura, evidenciando, como não poderia deixar de ser, a força da cultura em promover as rupturas necessárias para se encarar o presente. Assim, propõe-se um diálogo entre algumas obras, como K, de Bernardo Kucinski, as perspectivas de Daniel Aarão Reis, e imagens representativas do período, buscando-se ampliar o debate no que tange aos modos de fabricação de nossa memória cultural e as táticas rarefeitas de conciliação no país, que, nos termos colocados por Renan, continua sendo, mais do que nunca, um necessário plebiscito diário.
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